quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O MEU POMAR, história de Cecília Meireles

Pintura do blogue Oil Painting


Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse, não lhe poria grades à roda, como os outros proprietários. Não poria, a guardá-lo, um desses cães enormes, rancorosos, que andam sempre rondando os pomares... 

O meu pomar seria assim: todo aberto, para todos. E, quando o outono chegasse e as árvores ficassem cheias de frutos amarelos e vermelhos, nenhum pobrezinho teria fome, nenhuma criança choraria de sede, passando pelo meu pomar...

E, no inverno, ainda haveria lá onde alguém se abrigasse, quando chovesse muito ou fizesse muito frio...

E se eu tivesse um pomar, ele estaria sempre em festa, cheio de borboletas e de pássaros...

Como eu seria feliz, se tivesse um pomar!


Cecília Meireles

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CHEGADA DO OUTONO, história da Avómi

Outono, foto e montagem de Ilona Bastos


O Verão terminou, chegou o Outono e o Pardal Feliz, esmorecido, dizia ao Pardal Contente:

- Que pena o Verão ter terminado! Éramos tão felizes à roda da piscina! Nem necessitávamos de nos deslocarmos para comer, pois os banhistas eram tão nossos amigos, que nos davam aquelas migalhas saborosas, que nos regalávamos todos. O que será de nós, durante o Outono e o Inverno? Estou deveras preocupado.

- Não te aflijas, Pardal Feliz! - disse o Pardal Contente - Havemos de encontrar uma solução. Para já, não nos podemos queixar, pois ainda não nos faltou comida nem a alegria das crianças à volta da piscina. É certo que o Sol está mais distante e os banhistas vão rareando, no entanto há sempre aqueles que não deixam, pelo facto de ser Outono ou Inverno, de vir diariamente dar o seu mergulho. Para além disso, nós somos privilegiados com todo este arvoredo e tantas flores, pelo que não nos faltarão sementinhas para enchermos as barriguitas.

- Mas aquelas migalhas...! - exclamou o Pardal Feliz, lambendo o biquito - Havemos de ter bem poucas! E de vez em quando as crianças deixavam cair o pãozinho ou o bolinho... Quem se deliciava, éramos nós! Agora as crianças estão a rarear e se aparecem é por pouco tempo, por isso não chegam a comer aqui.

- Paciência, companheiro! - disse o Pardal Contente - Teremos que nos contentar com o que for aparecendo e verás que não morreremos de fome.

O Pardal Alegre que escutava a conversa dos dois amigos, disse:

- Não sei que mais queres, Pardal Feliz. Até tens a sorte de poderes saltitar de galho em galho sem te deslocares para grandes distâncias! Não te preocupes, que nada te faltará.

- Ai meu amigo, tenho tanto medo de deixar de ser feliz!

- Qual carapuça! - exclamou o Pardal Alegre - Até te chamas Feliz, portanto nunca deixarás de o ser.

- Mas poderei deixar de me sentir feliz, o que não tem nada a ver com o nome que me puseram. - disse o Pardal Feliz.

- Não penses nisso, Pardal Feliz! Aqui, no sossego deste canto, ninguém deixará de ser feliz - disse o Pardal Contente - Repara nas árvores. Como vês, estão a perder as folhas, mas continuam a sorrir!