Pintura de Nicholas Roerich |
- Pai, vou
fazer uma expedição ao Himalaia. Quero subir ao Evereste, a montanha mais alta
do mundo.
E o pai
apenas suspirou, sob o olhar compreensivo da mãe.
Nos dias
que se seguiram, empenharam-se todos três nos preparativos da viagem, que eram,
naturalmente, complicados. Os montes Himalaia ficam muito longe, na Ásia, e,
além disso, havia que obter os equipamentos próprios para a escalada, tendo em
atenção as baixíssimas temperaturas que se fazem sentir nas grandes altitudes.
Isto de subir ao Evereste, o mais alto cume do globo, era façanha de monta.
Todos os pormenores deveriam ser cuidadosamente estudados.
Finalmente,
chegou o dia da partida. E os pais despediram-se do seu filho que, determinado,
largou em busca do topo do mundo.
Depois,
chegaram as notícias espaçadas, como era habitual: de como a subida fora
difícil, mas bela; da descrição dos acampamentos onde a neve e o gelo surgiam
como únicas companhias; do momento espantoso em que, num esforço final, asteara
a bandeira verde-rubra no pico mais alto; da descida íngreme e escarpada; da
estadia num convento budista, em retiro espiritual.
E muitos
meses depois, longo tempo passado, o Joaquim regressou. Como de costume, vinha
calmo e compenetrado, aceitando com tranquilidade o acolhimento entusiástico de
que era alvo.
O
restaurante embandeirara-se para o receber, e estava completamente cheio.
Famílias inteiras tinham viajado de todo o país, em camionetas, de automóvel ou
de comboio, só para o avistarem. As crianças ansiavam por um autógrafo do seu
herói. Os adultos admiravam a sua bravura.
Os
corredores achavam-se apinhados, e nas salas de refeição todos os cantos haviam
sido aproveitados. Não havia lugar nem para mais uma pessoa. Todos queriam
vê-lo e felicitá-lo. Aguardavam, com expectativa, que o Joaquim desvendasse os
seus projectos!
O pai e a
mãe, reconfortados pela presença do filho, não cabiam em si de contentes, e
desejavam saborear a sua estadia junto deles. É claro que sabiam que o Joaquim
ficaria por pouco tempo, como usava fazer, pois já devia ter mais planos para o
futuro.
Desta vez, foi ele quem chamou o assunto.
Sentado à
mesa do pequeno almoço, com a mãe e o pai, o Joaquim anunciou:
- Pais,
gostei muito da vida que levei até agora e de todas as viagens que fiz. Sonhei
ir o mais longe que é possível ir, e viajei até Marte. Desejei conhecer todo o
planeta em que vivemos, e visitei cada um dos seus oceanos e continentes. Quis subir até ao cume mais elevado da Terra,
e realizei a escalada. Contudo, percebi que me falta alguma coisa, algo de
muito importante, que me é mesmo essencial. Por isso, vou mudar de vida.
- Sim, filho?! -
exclamaram os pais, expectantes.
- Vou tomar conta do
restaurante e assentar. Preciso de um lar e da vossa companhia.
Escusado
será narrar a alegria daquele casal que tanto amava o seu filho e para ele
desejava o melhor!
Como decidira, o
Joaquim assentou. Casou lá na terra, teve filhos, acompanhou os pais e tomou
conta do restaurante.
O Restaurante do
Joaquim tornou-se, afinal, no restaurante mais famoso do planeta, por pertencer
ao Joaquim - o homem que pisou Marte, navegou sozinho à volta da Terra, e subiu
ao cume mais alto do globo.
Amanhã, pela manhã, já está combinado, o Joaquim vai começar a ensinar os meninos a nadar!
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