Girafa do site do Jardim Zoológico de Lisboa |
Encontrámos a Josefa prostrada de cansaço no meio da selva.
Éramos um grupo grande e havíamos partido de casa na
véspera, apetrechados com todas as coisas que nos iriam ser necessárias durante
um mês, tempo que pensávamos permanecer na selva para um Safari.
Os jeeps iam cheinhos de alimentos, medicamentos, roupas,
sabonetes, shampôs, pastas de dentes, sabão, detergentes, panelas, pratos,
copos, talheres e até recipientes com água, para, no caso de não a haver por
perto nalgum dos locais onde acampássemos, estarmos prevenidos.
O tempo estava quente, mas naquele dia não havia chovido, o
que tornou o percurso até ali menos moroso. Percorremos, assim, vários
quilómetros, sem quase nos darmos conta.
Como íamos dizendo, a Josefa, uma girafa nossa amiga com
quem dialogamos sempre que fazemos um Safari naquela região, estava prostrada,
sem forças, estendida no chão, rosto repleto de lágrimas e soluçava sem parar.
- Que se passa contigo, Josefa? - perguntou um dos nossos
companheiros, o Duarte.
- Es...tou com so...lu...ços des...de ontem e sin...to...-me
can..sa...da. Acho que vou morrer.
- Nem penses nisso! - dissemos todos - Vamos já buscar água,
beberás uns golos e passar-te-ão os soluços num instante.
Acalma-te, que voltaremos rapidamente. O Rui ficará contigo,
para que te sintas acompanhada - disse eu.
Fomos buscar água, mas quando regressávamos apanhámos um
valente susto e metade da água desapareceu dos recipientes, porque começámos a
correr, depois de termos ouvido o Rui gritar:
- Fujamos, que há leão!... Fujamos depressa, que ele corre
na nossa direcção!
O Rui é muito brincalhão e amigo de fazer partidas. Como em
tempos ouviu dizer, que quando alguém está com soluços, a melhor coisa para
eles passarem é pregar um susto, não se fez esperar, tanto mais que, ao mesmo
tempo que tentava uma solução para o problema da Josefa, pregar-nos-ia uma
partida, o que lhe agradaria muito. E assim aconteceu.
A Josefa apanhou tamanho susto, que se levantou repentinamente
e fugiu na direcção do Rui. Nós perdemos metade da água que tínhamos ido buscar
ao rio.
Só nos apercebemos de que tinha sido mais uma partida do
Rui, quando o vimos escondido atrás duma espinheira, rindo perdidamente, e a
Josefa de pescoço no ar à procura dele, cheia de medo.
O Rui, depois de fazer a Josefa passar um mau bocado, porque
não o via e não sabia para onde fugir, levantou-se e a rir às gargalhadas,
perguntou-lhe:
-Passaram-te os soluços, Josefa?
- Ah, já não tenho soluços, mas quero esconder-me do leão.
Onde é que o viste? Onde é que ele está? Estou tão assustada que até me passou
o cansaço motivado pelo soluços.
- Ó Josefa, não há leão nenhum! - dissemos nós - Foi o
maroto do Rui que gosta muito de fazer partidas e, para nos assustar, resolveu
dizer que havia leão por perto.
- Não foi só para vos pregar uma partida! - disse o Rui -
Foi também para que passassem os soluços à Josefa, o que, como podem ver,
resultou. Não é verdade Josefa?
- É verdade! Passaram-me os soluços e não sei como tive
força para me levantar e fugir a sete pés. E lembrar-me, que desde ontem me
vinha a sentir tão mal por causa dos soluços! Depois deste susto, sem me dar
conta, passaram completamente.
- Quem me disse que um susto pode fazer passar os soluços,
não mentiu! - exclamou o Rui, muito satisfeito - Eu pensava que era
brincadeira, mas é mesmo verdade.
- Vamos então continuar a nossa viagem - disse o Bruno -
pois ainda temos muitos quilómetros para percorrer e vai-se fazendo tarde.
- Espero não voltar a ter soluços, senão quem me valerá?
- Se voltar a acontecer, corre para a beira do rio e bebe
cinco golos de água, que é outra maneira de fazer passar os soluços.
- Quem me dera viver perto de vós, para poder estar
descansada! Vocês arranjam sempre remédio para tudo!
- Não pode ser, mas qualquer dia passaremos outra vez por
aqui, para uma conversinha contigo. Agora não podemos perder mais tempo.
Continuámos a nossa viagem e, embora com pena de nos ver
partir, a Josefa ficou satisfeita a aguardar a nossa próxima passagem por ali.
Avómi
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