segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CARNAVAL, poesia de Maria da Fonseca

O Paulinho vai de melro
No desfile da avenida.
Entre colegas e fitas,
Brinca na manhã florida.

Todo vestido de negro,
Com seu bico alaranjado,
Vai alegre e dá às asas,
Tem o rosto enfarruscado.

E a sua escola é que ganha
O prémio"Original".
As crianças batem palmas,
- Viva o nosso Carnaval!

A mamã volta contente
Com o petiz pela mão,
- Vamos ter com a Ritinha
Para abraçar seu irmão.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O ASSALTO, história de Ilona Bastos


O pai Francisco levantou-se do sofá e bocejou.
- Bom, está na hora de irmos para a cama - disse ele. - Estou cheio de sono.
A filha mais velha, a Luiza, olhou para a irmã, Ana, e fez uma careta.
-Não! – protestou. – Ainda é tão cedo!
A mãe olhou para o relógio e concordou com o marido:
- Temos mesmo de ir dormir, meninas, para amanhã nos levantarmos bem dispostos e podermos gozar o Carnaval.
Com ar ensonado, o pai desligou a televisão. E a mãe foi fechar a porta da rua, dando três ruidosas voltas à chave. As filhas seguiam, aflitas, os seus movimentos.
- Não podemos ir já para a cama - insistiu a Ana.
- Mas, porquê? - surpreendeu-se a mãe. E as meninas entreolharam-se, nervosamente.
Lembravam-se das recomendações da avó Adelina, que lhes pedira para guardarem bem o segredo e não estragarem a surpresa.
- Já são onze horas - disse a mãe. - Não compreendo a vossa insistência...
- É uma surpresa... - murmurou a Luiza, sem se conter.
Antes que a mãe pudesse fazer alguma pergunta sobre o assunto, soaram fortes campainhadas por toda a casa.
- Quem poderá ser agora? - perguntou o pai.
A Luiza e a Ana saltitaram, alegremente.
- Vamos abrir! Vamos abrir! É a surpresa!
Aberta a porta da rua, apresentou-se, à entrada, um palhaço, que cumprimentou a família:
- Boas noites a todos! Isto é um assalto!

A mãe Isabel reconheceu de imediato a voz simpática e a figura elegante da avó Adelina, que tirou a máscara, sorrindo, e deu-lhe um abraço.
- Que grande surpresa! - exclamou.
- É um assalto! - explicou a avó Adelina, alegremente. - Avancemos para a cozinha!
E, seguida por um grupo de entusiastas foliões, mascarados de trapalhões, damas antigas, índios e cowboys, invadiu a cozinha, aí depositando embrulhos, caixas e sacos, enquanto os mais pequenos se espalhavam pela casa, atirando serpentinas e papelinhos.
Rapidamente, o pai Francisco colocou no gira-discos uma música brasileira de Carnaval, convidando à dança. Acendeu todas as lâmpadas do candeeiro da sala e, com a ajuda das filhas, afastou a mesa para um canto e enrolou a carpete.
Preparava-se um esplêndido baile de Carnaval!
- Meninas, então as vossas fantasias? - perguntou a avó Adelina.
As netas correram ao quarto para vestirem as suas máscaras. A Ana transformou-se numa cigana, com um longo vestido rodado, bordado com missangas e lantejoulas. Enfeitou o cabelo com uma rosa vermelha, que lhe tornou as faces mais rosadas. A Luiza tornou-se numa bela nazarena, com as suas sete saias, o lindo avental bordado, o chapéu preto e o lenço. Os seus olhos brilhavam de alegria, quando se olhou no espelho.


Regressadas à sala, encontraram a mesa posta e coberta de doces e guloseimas. Havia bebidas, sanduiches, croquetes, rissóis e umas empadas com um aspecto delicioso.
Ao centro da mesa, apetitoso, fora colocado um belo semi-frio de natas e chocolate.
Todos conversavam, satisfeitos, desvendando aos donos da casa os planos do assalto e a identidade dos mascarados.
O pai Francisco ria-se como não fazia há muito: quem diria que aquela estranha criatura de duas caras era afinal o primo António, sempre tão sisudo! E quem poderia supor que a Dona Arminda, amiga da avó Adelina, habitualmente tão recatada, dançaria tão entusiasticamente ao som do "Mamã eu quero..."?!
A mãe prendeu também uma flor no cabelo, que a fez parecer logo mais jovem. O pai escolheu um chapéu de chinês, que lhe deu um aspecto muito cómico. Inspirado, executou um sapateado notável, que foi premiado com uma grande salva de palmas.

Satisfeita, a Luiza segredou à irmã:
- Estás a ver aquelas empadinhas? Vou comer uma!
Gulosa, a menina escolheu a que lhe pareceu mais douradinha e deu-lhe uma vigorosa dentada.
- Ah! Que horror! - exclamou logo de seguida, devolvendo a empada ao prato.
A avó Adelina deu uma gargalhada bem disposta:
- Então, gostaste das minhas empadas de Carnaval? Uma especialidade, com recheio de algodão! Mas prova o semi-frio, que parece estar muito bom. Foi feito pela prima Alzira!
A risota foi geral, quando a mãe Isabel tentou cortar uma fatia do famoso gelado. Não havia talher que lhe chegasse, pois afinal também ali havia uma partida carnavalesca - o doce não passava de uma esponja coberta de natas e chocolate!
As danças e brincadeiras prolongaram-se pela noite fora, e a família divertiu-se como nunca, esquecida do cansaço do dia, do sono, da hora e da vontade de ir para a cama.
Quando, finalmente, os "assaltantes" saíram, depois de despedidas efusivas, a Luiza e a Ana perguntaram aos pais:
- Não ficaram zangados connosco por termos começado uma festa exactamente quando estavam tão cansados e queriam ir descansar, pois não?
O pai Francisco e a mãe Isabel fizeram um ar muito sério, trocaram um olhar e franziram as sobrancelhas, deixando as meninas apreensivas.
Depois, não se contiveram por mais tempo e desataram a rir, dizendo:
- É Carnaval, ninguém leva a mal!
As filhas riram também, aliviadas.
Estavam todos muito felizes, e aquela fora, de longe, a melhor de todas as festas de Carnaval!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BARCA BELA, poesia de Almeida Garrett



Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela, 
Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Ó pescador!

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!



domingo, 13 de fevereiro de 2011

A FORMIGUINHA BRANCA E A MINHOCA COR-DE-ROSA, história da Avómi



Era uma vez uma Formiguinha Branca. Era tão branca, tão branca, que as outras Formiguinhas ficavam admiradas a olhar para ela e interrogavam-se por que não seriam brancas assim.

Um dia a Formiguinha branca descia a escada de sua casa, muito atarefada (andava sempre atarefada) e encontrou uma Minhoca Cor-de-rosa, muito bonitinha que, lentamente, subia a escada.

- Onde vais? - perguntou-lhe a Formiguinha Branca.

- Disseram-me que vive aqui uma Formiguinha Branca muito asseada, que tem sempre a casa muito limpinha e arrumada, e faz uns petiscos muito saborosos, de modo que resolvi vir cá espreitar, para ver se é verdade o que dizem, e até pode ser que ela me ofereça algum petisquinho!

- Mas agora reparo! A Formiguinha Branca deves ser tu! Pelas indicações que me deram, és tu mesma, pois disseram-me que há apenas uma Formiguinha Branca!

- Sim, sou eu. - respondeu a Formiguinha Branca com ar sisudo. Por que é esse espanto todo por eu ser a única Formiguinha Branca? Eu ainda não me espantei por tu seres uma Minhoca Cor-de-rosa, apesar de nunca antes ter visto outra dessa cor!

- Ah, eu sou muito curiosa! A minha curiosidade é tão grande, que já não durmo há uns dias a pensar na melhor maneira de te procurar, não só para te conhecer, mas também para conhecer a tua casa, pois as minhas amigas dizem que a tens muito arrumada e limpa. Logo havia de encontrar-te no caminho e agora já não posso ir até lá! A menos que não te importes de ma mostrar!

- E para que queres saber se tenho a casa arrumada e o que se passa na minha casa? O que tens tu a ver se eu tenho a casa arrumada ou desarrumada, limpa ou suja? Ora essa, não sabes que é feio ser tão curiosa? Porque não te distrais a passear ou a arrumar a tua própria casa? Se tens o hábito de andar por aí a ver o que se passa nas casas dos outros, de certo não tens tempo para cuidar da tua. Terei razão ou não?

A Minhoca Cor-de-rosa ficou muito vermelha e envergonhada, pôs-se a pensar e disse:

- Na verdade não tenho a minha casa muito bem arrumada. Até me acontece frequentemente não encontrar as coisas que procuro, mas isso é porque não tenho tempo. Não sei porquê, o tempo desaparece e nunca consigo ter as minhas coisas em ordem. Quando chega a noite fico com tanto sono, que não resisto e tenho que ir dormir.

- Experimenta deixar de ser curiosa e terás tempo disponível para fazeres as tuas coisas - disse a Formiguinha Branca.

- Acho que vou aceitar o teu conselho, Formiguinha Branca! Pensando bem, já não quero ir a tua casa, já que depois de te conhecer não tenho dúvidas de que o que me disseram a teu respeito é verdade. És um bom exemplo a seguir.

Até qualquer dia e gostei muito de te conhecer!

- Até qualquer dia! - respondeu a Formiguinha Branca.