terça-feira, 26 de outubro de 2010

PELA PÁTRIA, poesia de António Correia de Oliveira

Primavera, pintura de Claude Monet

Ouve, meu Filho: cheio de carinho,
Ama as Árvores, ama. E, se puderes,
(E poderás: tu podes quanto queres!)
Vai-as plantando à beira do caminho.

Hoje uma, outra amanhã, devagarinho.
Serão em fruto e em flor, quando cresceres.
Façam os outros como tu fizeres:
Aves de Abril que vão compondo o ninho.

Torne fecunda e bela cada qual,
a terra em que nascer: e Portugal
Será fecundo e belo, e o mundo inteiro.

Fortes e unidos, trabalhai assim...
- A Pátria não é mais do que um jardim
Onde nós todos temos um canteiro.
.
.

sábado, 23 de outubro de 2010

A FLORINHA E OS MALMEQUERES, história da Avómi

Pintura de Mary Cassat, Spring Margot in the Garden (1900).
Metropolitan Museum of Art. Nova York.

A Florinha é uma menina muito morena, de olhos e cabelos castanhos, que vive numa vivenda com um lindo jardim à volta. Ela gosta muito de malmequeres, por isso o jardineiro, o senhor Cravo, faz questão de ter sempre um canteiro com aquelas flores muito bem cuidadas, para alegria da Florinha que logo pela manhã vai ao jardim dar os bons dias a todas as flores, deixando para último lugar a visita aos malmequeres, junto dos quais permanece muito tempo.

Os malmequeres orgulham-se da Florinha, porque ela é muito boazinha e trata-os com carinho.

Quando ela chega muito bem penteada, de lacinho no cabelo a condizer com o vestido vaporoso, comentam entre si a beleza da menina e sentem-se orgulhosos por ela ser tão amiga deles.

O Boby, fiel companheiro e amigo da Florinha, adora-a e, porque sabe do carinho que ela tem pelos malmequeres, não permite, seja a quem for, que se aproxime daquele canteiro, salvo o senhor Cravo, pois esse, o Boby sabe que só ali vai, para o cuidar.

A Florinha gosta de bonecas e faz lindas roupinhas para elas.

Uma vez, era Inverno, Florinha estava a fazer um vestido para uma das suas bonecas, lembrou-se que o Boby também devia sentir frio e, coitadinho, não tinha nenhum agasalho. Dali a imaginar uma linda capa para o amigo, foi um instante e em pouco estava a braços com a tarefa que, quando ficou concluída, além de muito bem feitinha, assentou perfeitamente no seu cão.

A Florinha tem também um gatinho, o Taky que se encheu de ciúmes quando viu o Boby com a linda capa e, enquanto não teve uma para si, não parou de miar.

Devido a tantas tarefas, a Florinha esteve alguns dias sem visitar as amigas flores que ficaram tristíssimas. Sobretudo os malmequeres que um após outro foram murchando.

O senhor Cravo, preocupado e sem saber que fazer - uma certeza ele tinha: não era por falta de serem cuidados com dedicação, que os malmequeres assim estavam - resolveu chamar o senhor Rosa, floricultor com grande sabedoria, que de certo iria descobrir a origem da doença.

O senhor Rosa, como habitualmente fazia, logo que foi chamado, compareceu e, depois de um excelente exame, não encontrou justificação para o acontecido, pelo que, à cautela, retirou uma porção de terra que levou para o laboratório a fim de ser analisada.

No dia seguinte, a Florinha que já não aguentava mais as saudades, foi ao jardim visitar as flores, mas ficou desolada ao chegar perto dos malmequeres.

O senhor Cravo dirigiu-se logo à menina, para a informar das diligências que fizera junto do floricultor e também para lhe pedir, que não pensasse que tinha descuidado o tratamento daquele canteiro. Todavia, ela estava tão triste, que não ouviu o jardineiro e, ao mesmo tempo que falava com as flores e as acariciava, as lágrimas caíam-lhe pela face.

O senhor Cravo não sabia que fazer para animar a menina e começou a ficar muito preocupado, mas, tal não foi a sua surpresa, quando dali a pouco os malmequeres começaram a endireitar-se e a ficar viçosos como se nada lhes tivesse acontecido.

Uns dias depois apareceu de novo o senhor Rosa com o resultado da análise que era satisfatório, pelo que não compreendia o que se estava a passar. Estava, por isso, ali, para colher novas amostras de terra, já que queria repetir a análise.

O senhor Cravo informou-o, nessa altura, da mudança de estado dos malmequeres, quando, após uns dias de ausência, a Florinha voltou a visitá-los.

- Pronto! Aí está a resposta - disse o senhor Rosa, satisfeito - Já não é necessário repetir a análise.

As flores são como as pessoas; gostam de se sentir acompanhadas e acarinhadas. O senhor Cravo deve recomendar à Florinha que não deixe de vir visitar os malmequeres todos os dias, ainda que seja por pouco tempo.

A Florinha nunca mais passou um dia sem visitar as suas flores e os malmequeres ficaram viçosos para sempre.


sábado, 16 de outubro de 2010

A JOANA E O PARDAL, poesia de Maria da Fonseca



A Joana vem da loja
E pára pra descansar.
No início da escada,
Precisa de respirar.

Mas, de repente, que há?
O piar de um passarinho
Desperta sua atenção.
Olha em redor com carinho.

Por entre as folhinhas verdes
Vê no lancil da escada,
Saltitar um pardalito,
A começar a escalada.

A cada pulo que dá,
Vai soltando seu piar.
E a jovem, encantada,
Sobe os degraus devagar.

Chegam ao topo da escada
A par e passo irmanados,
A Joana vai para casa
E o pardal para os relvados.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A CHUVA, história de Ilona Bastos

Naquele dia cinzento em que o Inverno chegou e fez o mercúrio descer nos termómetros, a mãe abriu a gaveta da cómoda e de lá retirou uma fofa camisola de lã às riscas.

- Toma esta camisola nova! - disse ela, entregando o agasalho ao filho, que o vestiu. - Hoje vais bem quentinho para a escola.

Pela rua fora, mãos nos bolsos, a assobiar, o Alexandre saiu cedo para as aulas, satisfeito e confortável dentro da sua nova camisola de lã.

E também a mãe ficou contente quando o menino, ao fim do dia, lhe contou que muito brincara, muito estudara, muito aprendera, e que não tivera frio nenhum.

Então, a mãe lavou rapidamente a camisola e estendeu-a a secar, para o filho poder vesti-la no dia seguinte.

Aconteceu que nessa noite caiu uma bátega de água, e de manhã, quando a mãe quis apanhar a camisola, foi encontrá-la fresquinha, molhadinha e... com metade do tamanho - com a chuva, a bela camisola nova de lã encolhera!

- Que grande aborrecimento! - desabafou a mãe, espreitando pela janela. - E ainda por cima vai continuar a chover durante todo o dia, por isso é melhor levares a gabardina.

Lá seguiu o Alexandre para o colégio, radiante, de capuz enfiado na cabeça, dando pontapés nas pedras da calçada.

Quando regressou, no final da tarde, a mãe ficou aliviada ao verificar que o menino muito brincara, muito estudara, muito aprendera, e não se molhara. Só os sapatos não se apresentavam no seu estado normal: estavam um pouco húmidos... ou melhor, molhados... bom, na verdade, estavam completamente ensopados!

- Rapaz! Rapaz! - exasperou-se a mãe - O que andaste tu a fazer?

E rapidamente descalçou o menino, colocando os sapatos junto do aquecedor.

No dia seguinte, pela manhã, a mãe tentou calçar o Alexandre. Mas os sapatos, marotos, recusavam-se a deixar os pés entrar, empurrando-os para fora - com o banho e a secagem, os sapatos tinham encolhido!

- Que maçada! - queixou-se a mãe. - Esta chuva parece que não pára, e hoje terás de levar as botas de borracha.

Que prazer, para o Alexandre, caminhar sobre poças e pocinhas, chapinhando e saltando, espalhando água em redor. De gabardina e com botas, não havia chuva que lhe chegasse, e o menino sentia-se nas suas sete quintas!

Mas, ai dos meninos traquinas! Distraído como ia, o Alexandre não reparou num buraco, mesmo à entrada do colégio. Quis pular e espadanar e acabou estatelado, a tomar banho na lama.

Para que não se constipasse, a professora despiu-lhe a roupa molhada e vestiu-lhe calças, camisola e gabardina, que havia no colégio para estas ocasiões. Só que o Alexandre era pequeno, e a roupa era grande...

Bom, quando, ao entardecer, o menino voltou para casa, veio a mãe, ansiosa, recebê-lo à porta. E vendo a esvoaçante gabardina, bem abaixo dos joelhos, as largas mangas escondendo-lhe as mãos, lançou os braços ao céu e exclamou:

- Ai, meu filho! Desta vez foste tu que encolheste!

camisola - suéter

gabardina - capa de chuva

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

AS ESTAÇÕES, poesia de Olavo Bilac (excerto)

Foto de Ilona Bastos

A PRIMAVERA

(Coro das quatro estações:)
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs ! enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!

(A Primavera:)
Eu sou a Primavera !
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha semu !
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações !

Imagem do blogue Clareira Oculta

.
O OUTO
NO

(Coro das quatro estações:)
Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs ! enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!
.

(O Outono:)

Sou a estação mais rica:

A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a Criação,
Concede a Natureza
O prémio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador.
Vede como o galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai ...
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A FORMIGA MÁGICA, história da Avómi

http://animais.com.sapo.pt/Tigre2.html


O Senhor Tigre tinha acabado de banhar-se no rio e decidira dar um passeio, aproveitando a sombra das árvores enormes que havia ao longo das margens. O sol estava quentíssimo, por isso tinha que procurar desviar-se dele, ou dali a pouco teria que voltar ao rio para se banhar de novo.

Mal começou a andar, o Senhor Tigre sentiu uma impressão numa pata.

- Mau! - disse o Tigre, arreliado - Ainda agora comecei o passeio e já estas ervas daninhas estão a meter-se comigo. Não estou a achar graça nenhuma! Que mania têm de fazer-me cócegas nas patas!

À medida que o Senhor Tigre ia andando a impressão ia aumentando. A dado momento, deixou de sentir cócegas e passou a sentir umas picadas fortes, tão fortes que lhe dificultavam o andar. Sentou-se à sombra duma árvore, examinou a pata, mas não viu nada. Continuou a andar, porém sentiu uma picada tão grande, que até os pêlos se lhe puseram em pé.

- Ora esta! Parece-me que tenho o passeio estragado. - disse ele.

Voltou a sentar-se, observou minuciosamente a pata e nada viu.

Recomeçou a caminhada, mas a situação ia de mal a pior e cada vez sentia as picadas com maior intensidade, pelo que se sentou de novo e disse:

- Seja o que for, hei-de descobrir e não sairei daqui sem que isso aconteça.

Procurou, procurou... por baixo, por cima, por todos os lados e nada de encontrar fosse o que fosse. Mas de repente:

- Que coisa será esta a mover-se tão rapidamente? Afinal estou enganado! Não se trata de erva nenhuma! Cá para mim é um pequeno insecto.

Espera lá insecto atrevido, que já te trato da saúde!

Todavia, antes que fosse apanhado, o insecto desapareceu por entre o pêlo do Senhor Tigre e por mais que este procurasse, não conseguiu encontrá-lo.

- Não sairei daqui sem que te apanhe, bicho atrevido! Hás-de convencer-te da tua insignificância, pois comigo não levarás a melhor. - ia dizendo o Senhor Tigre, furioso e vermelho que nem um tomate.

Palavras não eram ditas, o Senhor Tigre ouviu uma grande gargalhada e uma vozinha fina a dizer:

- Olha, olha, o Senhor Tigre e as suas manias de importante! Lá porque é um felino e eu uma pequena formiga, está convencido que levará a melhor!


imagem do blogue de Gabriel Perissé



- Ó Senhor Tigre, muito maior que o Senhor é o Senhor Elefante, e há dias, numa situação semelhante a esta, não queira saber as voltas que ele deu! Parecia um pião; dava voltas e voltas, esfregava as patas no chão, fazia um barulho que até a terra tremia, mas só se viu livre de mim quando me apeteceu mudar de ambiente.

Sabe, Senhor Tigre, canso-me de estar sempre no mesmo lugar, por isso aqui estou hoje, passeando pelas avenidas do seu corpo. O Senhor tem um pêlo tão bonito, que dá gosto apreciá-lo bem de perto, e tão macio, que apetece senti-lo.

- Ficas a saber, insecto minúsculo, que até caluniei as ervas daninhas por tua causa. Se te apanho!!!... - disse o Tigre.

- Ah, ah, ah!!!... Isso é que era bom! Não apanha, não!

- Como te chamas, bicharoco atrevido?

- Chamo-me Formiga Mágica. Apareço e desapareço quando quero.

- Formiga Mágica?! Nunca ouvi tal nome! - disse o Tigre, admirado.

Estás a mentir-me, bicho atrevido! Aparece lá, para eu te conhecer.

A Formiga Mágica calou-se muito caladinha, deu mais umas voltas pelo corpo do Senhor Tigre, enquanto ele foi barafustando sem qualquer resultado.

Cansado de suportar as picadas da formiga, resolveu voltar ao rio, para se banhar de novo, pois, pensava ele, talvez a Formiga Mágica fosse rio abaixo com a força da corrente e assim deixasse de o importunar.

A caminho do rio encontrou o Senhor Esquilo e perguntou-lhe:

- O Senhor Esquilo já ouviu falar da Formiga Mágica?


- Já, já! - respondeu o Esquilo - Até já senti as suas picadas que não são nada agradáveis, e só consegui libertar-me dela ao fim de três dias, quando apareceu o meu amigo Guardador de Rebanhos, que interpretou uma linda melodia com a sua flauta.

- E o que tem a ver o Guardador de Rebanhos e a flauta com a Formiga Mágica? - perguntou o Senhor Tigre.

- Tem muito. A Formiga Mágica gosta muito de música. Quando ouve música, se estiver hospedada entre o pêlo de algum animal, sai imediatamente, para ouvir melhor. É capaz de ficar horas a ouvir música; fica mesmo até à exaustão e acaba por adormecer.

- Diga-me lá, amigo Esquilo, onde posso encontrar o Guardador de Rebanhos?

- Deixe essa tarefa comigo, Senhor Tigre. Ele não está longe e daqui a alguns minutos o Senhor estará liberto desse incómodo.

- Deus o oiça, Senhor Esquilo. Estou tão saturado, que até já perdi a vontade de dar o passeio que tanto me apetecia quando o iniciei.

- Deixe comigo. - disse o Esquilo.

O Esquilo partiu ao encontro do Guardador de Rebanhos que andava ali perto com o seu rebanho. Mal se encontraram e o Senhor Esquilo lhe contou o que se passava, disponibilizou-se para ir em socorro do Senhor Tigre.

Foi tocando a sua flauta pelo caminho e ao chegar ao local onde se encontrava o Tigre, tocou uma linda melodia que sabia ser do agrado da Formiga Mágica. Esta, mal ouviu a música, saiu do corpo do Senhor Tigre, deitou-se à sombra duma pequena pedra e daí a algum tempo adormeceu hipnotizada por tão linda melodia.

Só assim o Senhor Tigre conseguiu ver-se livre dela e pode continuar o passeio ao longo do rio, que com tanto gosto iniciara.