domingo, 25 de dezembro de 2011

O PRESÉPIO, poesia de Maria da Fonseca

Próxima de dar à luz,
Maria foi a Belém.
Ali, ia recensear-se,
E com seu esposo também.

A hora do Nascimento,
Os dois, sabendo-a chegada,
Num ‘stábulo se abrigaram,
Por não acharem pousada.

E, quando o Bebé nasceu,
Em panos foi enfaixado,
E, com o maior carinho,
Na manjedoura, deitado.

A guardar os seus rebanhos,
‘Stavam no campo os pastores,
Quando uma luz resplendeu
Na noite, a causar temores.

Mas um anjo apareceu,
Que logo os tranquilizou:
- Trago-vos boas notícias, -
E assim lhes anunciou:

- Hoje, nasceu em Belém,
Quem o mundo vai salvar.
Muito perto da cidade
O podereis adorar.

Muitos anjos entoavam
Hosanas e Glória a Deus:
- A Paz seja em toda a terra,
A todos os filhos Seus.

Caminho fora, os pastores
Seguiram co’as ovelhinhas,
Tendo encontrado o Menino
Reclinado nas palhinhas.

A vaca mais o burrinho
O amimam, com seu calor.
Seus amantíssimos Pais
Veneram-No com fervor.

Logo, os pastores saíram
A espalhar a Boa Nova.
E dois mil anos volvidos,
Louvamos co’ a mesma trova:

“Glória a Deus nas alturas,
E na terra,
Paz aos homens por Ele amados”.



sábado, 24 de dezembro de 2011


A todos desejamos um Feliz Natal!
 .
.

domingo, 6 de novembro de 2011

OUTONO, poesia de Maria da Fonseca

Anita, Marcel Marlier


Primeiro dia de chuva
O tempo está a mudar.
O chão coberto de folhas
Já nos tem vindo a avisar.


Mui sequinhas e douradas,
Formavam tapete lindo.
O Verão foi muito quente,
O Outono será bem-vindo.


Algumas foram varridas.
E a relva assim descoberta,
Cheia de água e viçosa,
Sente-se agora liberta.


Do claro verde ao castanho,
Há todos os cambiantes.
Minha estação preferida,
Se tudo for como dantes!


Dias límpidos sem mancha
De amena temperatura.
E quintais alaranjados,
Com matizes de verdura.



Sobre MARCEL MARLIER


O autor da ilustração que acompanha este belo poema de Maria da Fonseca é Marcel Marlier, um artista e ilustrador belga nascido a 18 de Novembro de 1930 em Herseaux.
Devo dizer-vos que sou, há muitos anos, uma entusiasta admiradora das belíssimas pinturas e ilustrações de Marcel Marlier.  E por isso aproveito para vos deixar aqui alguns dados sobre a sua vida e obra.
Aos 16 anos, Marcel Marlier ingressou no curso de arte decorativa da Escola Saint-Luc de Tournai, tendo concluído os seus estudos em 1951, com a maior distinção. Dois anos mais tarde regressou à mesma escola como professor.
A editora belga “La Procure à Namur” organizou um concurso de desenho, com a finalidade de encontrar artistas talentosos para ilustrarem trabalhos destinados a crianças em idade escolar. Marcel ganhou o concurso e veio a ilustrar dois livros de estudo – Leitura com Michel e Nicole e Cálculo com Michel e Nicole -, que acompanharam toda uma geração de crianças belgas ao longo dos seus primeiros anos escolares.
Marcel colaborou com essa editora durante mais de vinte e cinco anos.
Desde 1951, a editora belga Casterman mostrou interesse pelo trabalho de Marcel Marlier, e sugeriu-lhe que ilustrasse uma série de livros infantis. O resultado foi a edição dos livros de aventuras de Alexandre Dumas (As cruzadas aventurosas do capitão Pamphile, 1951), da condessa de Ségur (O pequeno de Crac, 1953; Um dia de felicidade, 1960) ou da Madame le Prince de Beaumont (A bela e o monstro, 1973).   Marcel colaborou também na série Farandole, destinada a crianças.
A partir de 1954, Marcel ilustrou os livros da série Martine – em Portugal, Anita -, cujo autor era Gilbert Delahaye. Esta série cobre mais de 50 títulos e encontra-se traduzida em numerosas línguas, incluindo o Português.
Em 1969 Marcel Marlier criou a sua própria série de livros infantis, Jean-Lou e Sophie, de que foram publicados doze albuns.
As pinturas de Marcel Marlier são verdadeiramente encantadoras e mágicas.


Fonte: Casterman


O Mundo d' Anita - Um blog inteiramente destinado à Anita
http://omundodanita.blogspot.com/

AQUARELA DO BRASIL, desenhos animados da Disney


O Pato Donald e o Zé Carioca encontram-se no Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa!



domingo, 30 de outubro de 2011

AS ÁRVORES E OS LIVROS, poesia de Jorge Sousa Braga


As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga, Herbário (2002)
Assírio & Alvim 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A RAPOSA PREGUIÇOSA, história da Avómi

Era domingo e a Gazela e a Raposa conversavam, enquanto davam um passeio.

- Hoje é véspera de segunda-feira. - disse a Gazela.
- Eu sei - disse a Raposa.
- Eu sei que tu sabes, mas estou a lembrar-me, que amanhã terei que me levantar muito cedo, porque tenho muitas coisas a fazer - disse a Gazela.
- Eu sei - disse de novo a Raposa.
- Eu sei que tu sabes, mas estou a lembrar-me, que talvez possas dar-me uma ajuda. - acrescentou a Gazela.
- Ah... Não posso! Amanhã tenho um compromisso. - disse a Raposa.
- E na terça-feira? - perguntou a Gazela.
- Na terça feira tenho outro compromisso. - respondeu a Raposa.
- Ah, sim, percebo... - disse a Gazela com desdém.
- Eu sei que tu percebes, por isso nem devias pedir-me ajuda. - disse a Raposa.

Gazela-dorcada, do Site Saúde Animal

- Eu só queria que te tornasses útil. - continuou a Gazela.
- E sou! - disse a Raposa com ar enfatuado.
- Qual carapuça! Tu, útil?! Nem digas semelhante coisa, que parece mal! - disse a Gazela, já irritada com a Raposa.
- Isso é que sou! - insistiu a Raposa. - Senão repara: Amanhã logo pela manhã irei à caça com os meus amigos; eles caçarão e eu far-lhes-ei companhia.
- Não esperava que fizesses outra coisa! - exclamou a Gazela com ar de troça.
A Raposa acrescentou ainda:
- É costume os meus amigos prepararem uma boa refeição após a caçada e enquanto isso acontece, durmo sempre uma soneca.
- Para isso tu serves. - disse a Gazela - O pior é se a soneca se prolonga e ficas sem almoço, o que seria bem feito, para deixares de ser preguiçosa.
- Isso é que não fico, porque os meus amigos conhecem-me bem e hão-de acordar-me quando tudo estiver preparado. Só terei que lavar as mãos e sentar-me à mesa - disse a Raposa com ar zombeteiro.
Após o almoço costumamos dar um passeio pela margem do rio, onde as bonitas árvores fazem uma sombra que dá gosto. Normalmente canso-me a meio do caminho e volto a dormir deitadinha à sombra duma árvore, enquanto eles andam, andam... para, segundo dizem, fazerem a digestão.
Eu cá não preciso de fazer digestão nenhuma, preciso é de descansar.

- Tens razão! Precisas de descansar as fadigas de quem nada faz, não é? És mesmo descarada - disse a Gazela, indignada. - Que dirão aqueles que trabalham desde manhã até à noite?

- Esses não se cansam, por isso é que trabalham - disse a Raposa a sorrir.

- Bem, de ti não há nada a esperar. - disse a Gazela - Contudo não quero entrar em conflito, mas tão só dizer-te, que és o animal mais preguiçoso que conheci em toda a minha vida. Porém, é estranho que assim sejas, porque os teus pais e os teus irmãos são bastante trabalhadores.

- Pois, por isso mesmo é que não preciso de trabalhar! - disse a Raposa esfregando as mãos de contente - Só se fosse pateta! Adoro sentar-me a olhar os outros enquanto trabalham. Às vezes os meus irmãos irritam-se e chamam-me capataz, mas não me importo. Também ficam furiosos quando dou sugestões que, diga-se em abono da verdade, nem sempre são frutuosas.

Um dia destes saí-me mal e apanhei um valente susto, porque um dos meus irmãos atirou-me com um prato, quando eu, muito bem refastelada numa cadeira, lhe dizia como devia pôr a mesa. E mais... que a pusesse depressa.

Por sorte, ele não teve pontaria e o prato foi estatelar-se no chão e ficou em fanicos.
- Estás a ver? - disse a Gazela - O teu irmão teve razão para se zangar contigo. Claro que não acho bem que te tenha atirado o prato, pois isso não se deve fazer, mas lá que devem perder a paciência contigo, acredito.
Mas agora reparo, é tardíssimo!... Vou, mas é para casa, pois quero fazer umas coisas ainda hoje. O meu tempo tem que ser bem orientado ou não me chegará para fazer tudo que programo para cada dia.

- Continua a proceder assim e não descanses, e verás o que te vai acontecer. - disse a Raposa - Olha que quem te avisa teu amigo é!
Continua a trabalhar, que eu continuarei a descansar, minha amiga.

- Eu não digo que, contigo, não há nada a fazer?!...- disse ainda a Gazela.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

E SE EU LARGASSE O MEU OLHAR?, poesia de Ilona Bastos

Golfinho - imagem do site CANAL NATUREZA


E se eu largasse o meu olhar?
E se o deixasse percorrer o mar imenso,
Lançar-se, livre, no céu infinito,
Cavalgar pela planície, até ao horizonte?
...

E se o meu olhar tudo abarcasse
(A humanidade, a fauna, a flora!)
E nele guardasse toda a criação?
...

E se o meu olhar fosse microscópico
E distinguisse o grão, a gota, a bactéria?
..

E se o meu olhar fosse macroscópico,
E nele coubessem todas as estrelas e as galáxias?
..

E se visse o invisível e, para si, as ondas
Os aromas e os sons mostrassem cores
E formas dos outros desconhecidas?
..

E se eu seguisse o meu olhar, e com ele...
..

Nadasse os oceanos, tal um golfinho,
Voasse pelo azul, como gaivota,
Ganhasse velocidade sobre a pradaria?
(Cavalo selvagem, outrora detido, agora liberto…)
..

E se tudo soubesse do que via
E a razão de tudo se revelasse?
..

E se atingisse a molécula, o átomo, o quark,
A mais ínfima partícula, e entendesse
Afinal, do que é construído o Universo?
..

E se o meu olhar e eu fossemos o mais longe
que é possível ir, e regressássemos o mais depressa
que é possível vir, para contar?
..

Que encontraríamos e saberíamos,
Que contaríamos, eu e o meu olhar?
 
 
 
 

sábado, 1 de outubro de 2011

Dia Mundial da Música - 1 de Outubro

MÚSICA


Com esta música não descanso, danço.
Solto meus passos, saio de mim.
Sigo compassos e vou assim,
voam meus braços, prazer sem fim.

Ilona Bastos
  



O primeiro Dia Internacional da Música, organizado pelo Conselho Internacional da Música, aconteceu no dia 1 de Outubro de 1975, de acordo com uma resolução tomada na 15 ª Assembleia Geral, em Lausanne, em 1973.
 
 A intenção deste dia é promover:

    a arte musical, em todos os sectores da sociedade;

    a aplicação dos ideais da UNESCO de paz e amizade entre os povos, da evolução das suas culturas, da troca de experiências e da valorização mútua dos seus valores estéticos;

as actividades do Conselho Internacional da Música, das organizações internacionais que dele sejam membros e dos comités nacionais, bem como a sua política programática em geral.
     

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PÃOZINHO DE CADA DIA, poesia de Maria da Fonseca

Fotografia dos Pardais, Arlete


Grande demais a migalha
Que o pardal debicava.
Rápido e perseverante
O seu filho alimentava.


O pequeno o bico abria
Dando às asas ansioso
Para receber do pai
Pãozinho delicioso.


A cena era comovente
E feliz eu me senti
Por podê-la observar;
No momento 'star ali.


Mas os pombos não deixaram
E um, em voo rasante,
Apanhou-lhes a migalha
Levando-a, pois, de rompante.


Na linda tarde de V'rão
Não vi que houvesse luta.
As aves bicando o chão
Retomaram a labuta.
.
.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O MOSTRENGO, poesia de Fernando Pessoa

David de Almeida, O Mostrengo, painel em pedra gravada, Escola EB 2,3/S de Oliveira de Frades



O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»
 
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»
 
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A HISTÓRIA DA GLÓRIA, história da Avómi


Imagem da Internet

A Ritinha gosta muito de histórias, sabe algumas e gosta muito das histórias que a mãe conta:

Livrinho amarelo
gancho no cabelo
Ritinha conta
histórias que encanta

Muito inteligente
também divertida
faz rir toda a gente
e é muito amiga

logo pela manhã
acorda a mamã
- Conta uma história!
aquela da Glória!

Então a mãe conta-lhe a história da Glória:

Mãe - A Glória é uma menina de quatro anos que está numa Creche, porque a mãe trabalha e não pode dar-lhe assistência durante o dia.

Rita - É como eu, não é mamã?

Mãe - É sim, minha filha! Posso continuar?

Rita - Sim, mamã, que eu gosto muito das tuas histórias!

Mãe - Logo pela manhã vai o pai ou a mãe levá-la à Creche, despedem-se com um beijinho e vão para os seus empregos.

Rita - Para ganhar dinheirinho, não é mamã?

Mãe - Claro, Ritinha! A menina já sabe que é! Interrompe tantas vezes, que daqui a pouco vou esquecer-me da história.
 
Rita - Pronto, mamã! Prometo que não interrompo mais.

Mãe - A Glória fica tristinha quando vê os pais partir, mas começa a brincar com as outras crianças e distrai-se. De vez em quando chegam-lhe as saudades e pede à Educadora para telefonar à mamã, porque a mamã deve estar com saudades.
A Educadora acha muita graça, uma vez por outra faz-lhe a vontade e delicia-se a ouvir o diálogo que é o seguinte:

- "Mamã, quando é que vens buscar-me? Estou a brincar muito bem com as minhas amigas e com os meus amigos, mas às vezes também me apetece brincar contigo e com o papá! Não sei porquê, mas sinto saudades!...
Ó mamã, quando logo me vieres buscar e formos para casa, brincas comigo às mães e filhas? Olha, eu vou ser a mãe, está bem? Faço o almocinho, o jantarinho, ponho a mesa... Tu ajudas-me, mamã?"

- "Ajudo! - diz a mãe do outro lado - Mas logo conversaremos melhor. Agora temos que desligar. A mamã tem que fazer e a menina também! Beijinho e até logo, Glória."

- "Até logo, mamã! Vem cedo! Diz ao papá para vir também, para brincarmos todos."

- "Está bem, minha filha! Até logo!..."

A Glória desliga o telefone muito contente e vai a correr contar à Educadora toda a conversa que teve com a mãe. Depois corre para os companheiros, conta-lhes também e acrescenta:

- "Eu brinco muito com o papá e a mamã! Eles contam-me histórias muito bonitas e eu conto-lhes as que sei. Conto sempre aquelas histórias que a nossa Educadora, a Isabel, costuma contar-nos aqui na Creche, e eles gostam muito. Todos os dias me pedem para lhes contar uma história nova.
Lembram-se daquela do Passarinho de Oiro? Hoje vou pedir à mamã para ma contar. Como já lha contei há muito tempo, quero ver se ela ainda se lembra. A mamã é tão esquecida! Às vezes, no dia seguinte já não se recorda do que me tinha prometido na véspera.

Nós sabemos histórias muito bonitas, porque a Isabel sabe muitas e tem muito jeito para as contar! Aquela do Passarinho de Oiro foi-nos contada por ela, ainda éramos bem pequeninos! Lembram-se? Ela até teve que a contar muitas vezes!...
Quando sairmos da Creche para irmos para a Escola Primária, havemos de ter saudades da nossa Educadora que é tão nossa amiga!..."

- "Sim, sim! Havemos de ter muitas saudades da Isabel, mas poderemos vir visitá-la, de vez em quando. - disseram os outros meninos."

Mãe - Termina aqui a História da Glória. Gostou?

Rita - Gostei muito, mamã, mas cá para mim essa História da Glória parece igualzinha ao que se passa comigo na Creche! Tu não inventaste, nem nada!?!...

- Não, minha filha! Não inventei, mas existem histórias muito parecidas com a realidade, por isso não admira que te identifiques com a Glória.


sábado, 3 de setembro de 2011

O RESTAURANTE DO JOAQUIM - 1ª Parte, história de Ilona Bastos

Ilustração de Ilona Bastos
Era uma vez um casal que teve um filho. E, porque o amava muito e achou o nome bonito, baptizou-o de Joaquim.

Para garantir-lhe o futuro, decidiu o pai construir um restaurante - pedra sobre pedra, bem ligadas com cimento. A cobrir, colocou-lhe um vistoso telhado de argila vermelha, e, por dentro, amplas mesas e toalhas brancas. Assim era o Restaurante do Joaquim.

No primeiro aniversário do filho, levou-o o pai ao restaurante, ansioso por assistir à alegria infantil da criança perante o luzir dos talheres sobre as mesas e o brilhar dos copos sob a luz dos candeeiros.

Porém, a verdade é que o menino pouca piada achou àquilo tudo, mais entretido que estava em puxar ao pai as suíças e os bigodes. Mas o pai, enternecido, não se cansava de dizer:
- É o teu futuro, Joaquim, o teu restaurante.

O Joaquim cresceu cheio de vida e curiosidade por tudo o que o rodeava. E cedo manifestou o desejo de aprender a nadar. Logo os pais providenciaram para que o fizesse, e o rapaz depressa se tornou sério candidato a campeão.
Ilustração de Ilona Bastos

Na escola, o Joaquim mostrava-se bom aluno, sabia as lições, e com interesse aprendia tudo o que os professores ensinavam.

Entusiasmado, o pai ansiava pelo dia em que o Joaquim, terminados os estudos, tomasse conta do seu restaurante.

O restaurante que, diga-se de passagem, ocupava todos os tempos do pai de Joaquim, que dele cuidava com esmero, aperfeiçoando cada prato, cada iguaria, cada detalhe, reunindo dessa forma uma fiel clientela.

Mas o Joaquim parecia ter planos diferentes, e desejava continuar a estudar. Surgiu-lhe a ideia de que, se se movia na água, devia mover-se no ar. Queria aprender a pilotar aviões.

E os pais tudo fizeram para que o Joaquim se matriculasse na adequada escola e tirasse o seu brevê.

Que cuidados, que orgulho, os daqueles pais! O seu filho só lhes dava alegrias! E para que tudo ficasse bem, só faltava que o Joaquim se dedicasse ao restaurante.

No dia do exame final, quando, fardado, empunhava o diploma, o pai falou-lhe no assunto, mas o Joaquim, muito sério, confidenciou:

- Pai, tudo isto tem sido muito interessante, mas na verdade eu quero é ser astronauta. Quero ir para a América, trabalhar na NASA e viajar pelo espaço.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

FIM DE AGOSTO, poesia de Maria da Fonseca



Fim de Agosto, fim de férias,
Todos regressam contentes,
Seus hábitos, seus trabalhos,
Reencontros sorridentes.

Na mudança de ambiente,
Houve tempo pr'a pensar.
Numa ânsia de progresso,
A ideia é melhorar.

E sentem-se mais saudáveis,
Com o espírito liberto.
Os projectos variados
Têm seu momento certo.

Os alunos vão pr'a escola,
Com postura impecável.
Os pais muito recomendam,
Mostra de amor incansável.

Surgirá nova matéria,
Que é preciso aprender.
Mas são muito curiosos,
E amigos de mais saber.

Mais um ano escolar,
Um ano da vossa vida,
Com desafios e surpresas,
Esperança renascida.

E tudo correrá bem,
Com vontade e simpatia,
Daqueles que vos ensinam
A vencer no dia a dia.

Será grande o vosso esforço,
E o de todos os demais.
Mas o ano será cumprido,
Por favor não vos temais.

Uma vez chegado ao fim,
Mostraram ser animosos.
Provas dadas de que são
Cumpridores e generosos.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

HINO DE AMOR, poesia de João de Deus

Imagem da Internet


Andava um dia
Em pequenino,
Nos arredores
De Nazaré,
Em companhia
De São José,
O Deus-Menino,
O Bom Jesus.
Eis senão quando
Vê num silvado
Andar piando
Arrepiado
E esvoaçando
Um rouxinol,
Que uma serpente
De olhar de luz
Resplandecente
Como a do sol,
E penetrante
Como diamante,
Tinha atraído,
Tinha encantado.

Jesus, doído
Do desgraçado
Do passarinho,
Sai do caminho,
Corre apressado,
Quebra o encanto;
Foge a serpente;
E de repente
O pobrezinho,
Salvo e contente,
Rompe num canto
Tão requebrado,
Ou antes pranto
Tão soluçado,
Tão repassado
De gratidão,
Duma alegria,
Uma expansão,
Uma veemência,
Uma expressão,
Uma cadência,
Que comovia
O coração!


Jesus caminha,
No seu passeio;
E a avezinha
Continuando
No seu gorjeio,
Enquanto o via:
De vez em quando
Lá lhe passava
À dianteira,
E mal pousava,
Não afrouxava
Nem repetia,
Que redobrava
De melodia!

Assim foi indo
E o foi seguindo.
De tal maneira
Que noite e dia
Numa palmeira,
Que havia perto
Donde morava
Nosso Senhor
Em pequenino,
(Era já certo)
Ela lá estava
A pobre ave
Cantando o Hino
Terno e suave
Do seu amor
Ao Salvador!



segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A PRAIA, quadras de Ilona Bastos

Praia da Vieira, de Sílvia Patrício


Voam pipa, disco,  bola,
Espuma branca, onda do mar.
Rente à areia macia,
Passa a gaivota, a planar.

Um papagaio descola,
Pula o menino, a brincar.
Ao vento, em doce carícia,
 Vela de barco a vogar.



sábado, 2 de julho de 2011

A OVELHINHA MANHOSA, história da Avómi

Ovelha - Imagem do Blogue Locks Park Farm


Estava um dia de sol e a Cabrinha Saltarica não queria perder nem uma réstia. Como não gostava de estar quieta, andava a saltaricar sobre as pedras e viu a Ovelhinha Manhosa que fugia assustada. Com curiosidade, perguntou-lhe:

- Para onde vais neste dia tão bonito, com esse ar assustado, Ovelhinha Manhosa?

- Não digas nada, Cabrinha Saltarica, mas vou tentar esconder-me, porque andam por aí uns senhores a cortar a lã às ovelhas e não quero que me façam o mesmo.

- Não queres que te façam o mesmo? Ora essa! Então queres andar com a lã a arrastar pelo chão, com esse aspecto tão feio?

- Prefiro, porque já uma vez me cortaram a lã e andei uns tempos a tiritar de frio. Não estou para isso.

- Tu é que sabes, mas acho que fazes mal, Ovelhinha Manhosa.

- O que eles querem, é vender a minha lã para fazer casacos, mas nessa é que eu não caio. Iam ficar os outros com casaquinhos quentinhos, feitos com a minha lã e eu cheia de frio, não?! Era o que faltava! Pensam que são espertos, mas enganam-se, pois eu sou bem mais esperta que eles.

- Mas olha lá, Ovelhinha Manhosa, a tosquia acontece todos os anos na época própria e a lã volta a crescer, por isso não compreendo o teu receio! Olha que é para teu bem!

- Não tens nada que compreender. Eu é que sei da minha vida, e com a minha lã ninguém há-de andar aquecido.

- Estás a ser egoísta, Ovelhinha Manhosa.

Cabra - Imagem do blogue True Wild Life
 
Passado algum tempo, a Cabrinha Saltarica subia a encosta aos saltinhos, toda contente, encontrou uma ovelha muito gorda, muito feia e suja. A lã dela arrastava pelo chão e mal podia mexer-se.

A Cabrinha Saltarica fez os possíveis por passar bem longe dela, pois estava tão suja e cheirava tão mal, que metia nojo.

Era a Ovelhinha Manhosa, mas devido ao seu estado e à modificação que sofrera, a Cabrinha Saltarica não a reconheceu. Contudo, a Ovelhinha Manhosa reconheceu imediatamente a Cabrinha Saltarica e disse:

- Não me cumprimentas, por eu estar feia e doente, já sei.

- Ah, és tu! Desculpa, mas não te reconheci. Com efeito, estás mesmo feia! Eu bem te dizia, mas não quiseste crer!

- Ai, Cabrinha Saltarica, nem sabes quanto tenho sofrido! Se és minha amiga, por favor, arranja-me depressa um tosquiador, que já não aguento mais com tanto peso e o calor dá cabo de mim.

- Agora é impossível, dado que não é a altura das tosquias. Terás que esperar, porque se fosses tosquiada nesta altura, não aguentarias o frio do Inverno que se aproxima. No entanto, vou falar com o Senhor Francisco que é o tosquiador das ovelhas do meu dono e veremos o que ele diz, mas acho que me dará razão.

- Se visses como as Ovelhas lá da quinta estão bonitas!...

- Não desanimes, Ovelhinha Manhosa! Ainda que não seja possível seres tosquiada agora, o pior tempo já passou. Tens que ter paciência e aguentar mais um pouco. Cá para mim, isso é castigo de Deus pelo teu egoísmo e terás mesmo que aguentar até à próxima época.
 
De futuro já sabes, que as coisas quando acontecem, é por alguma razão e não voltarás a esconder-te na altura das tosquias, visto que, não só prejudicas os outros, mas também a ti própria.