quarta-feira, 24 de setembro de 2025

PRIMEIRA CHUVA DE OUTONO - Poema de Ilona Bastos


Primeira Chuva de Outono


Na rua em granito, as pedras brilhantes

e as folhas, em suaves descidas

das árvores molhadas,

amarelas, castanhas, douradas…


Nos veios de terra já surgem, pujantes

tão tenras, as plantas agora nascidas

são verdes, bordadas,

vidas renovadas.


– Mas como?

Se ontem mesmo as não vi!

– Foi a chuva que as trouxe,

de presente, para ti.


Ilona Bastos 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

ADIVINHAS SOBRE PROFISSÕES - Ilona Bastos


Aqui está um mistério para desvendares.

Consegues descobrir a que profissão se refere esta adivinha?


Quem é, quem é?

Põe-nos o cabelo em pé.

Usa champô para lavar,

A tesoura para cortar, 

Tintas várias para pintar,

E secador para secar.

Enrolado ou esticado,

Deixa o nosso penteado.

Quem é? Quem é?


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

OU ISTO OU AQUILO - Poema de Cecília Meireles

 

Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

O TIM E A PIZZA - Poema de Ilona Bastos



O TIM E A PIZZA



O cãozinho Tim tem pelo dourado, 

longas orelhas e olhar animado.


Acha-se esperto e sabichão,

não ouve os conselhos que os outros lhe dão!


Na Passagem do Ano, o Tim desejava 

uma bela pizza que a família jantava. 


Rondava a mesa, de nariz no ar,

e com a patinha chamava, a ladrar.


Erguia o focinho, mas diziam-lhe: — Não!

A pizza não é comida de cão!


E eis que lançaram foguetes, lá fora!

A família correu a espreitar, sem demora. 


Os pais e os filhos, todos à janela,

sorriam, olhando a estrela mais bela.


No centro da mesa, redonda, cheirosa,

lá ficou a pizza, quente e saborosa!


O queijo, o fiambre, o tomate docinho...

Que delicioso odor sentia  o cãozinho!


O Tim só pensava, sentado no chão:

– Parece-me que a pizza é comida de cão!


Abanou a cauda e ladrou: – Está na hora!

Que rico petisco vou comer agora!


Saltou para a mesa, e a pizza mordeu, 

levou-a para um canto e logo a comeu.


Lambeu o focinho, todo satisfeito,

pois estava orgulhoso do que tinha feito.


 Voltou a família e, espantada, gritou:

– Oh!...  Como é que a pizza daqui voou?


Com ar inocente, o Tim bem fingia

e, da sua malandrice, nada dizia.


Já noite bem escura, o Tim acordou.

A barriguinha doía, e o cãozinho chorou.


Todo enrolado, sobre o colchão,

desanimado, pedia:  – Mais pizza, não!


Sentia tristeza, estava arrependido

por a grande pizza ele ter comido.


A família ouviu-o e veio ajudar,

trazendo um remédio para o curar.


Ficou junto dele e o acompanhou.

Deu-lhe um grande abraço que o animou. 


– Querido cãozinho – disseram, baixinho.

– Já vais melhorar e não estás sozinho!


O Tim, nessa noite, aprendeu a lição: 

Ao que a família diz é preciso atenção!


Ouvir quem nos ama é tão importante

como um abraço reconfortante.


Afinal, a família sempre tinha razão:

A pizza não é comida de cão!


Ilona Bastos

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

SÁBADO DE VERÃO - Poema de Maria da Fonseca

 



Sábado de Verão 


Linda, pura, transparente,
Chegou hoje a manhã,
É como um belo presente
Que eu agradeço, cristã.

É mais um dia de vida
Que o Senhor me oferece,
Também há arve florida
E outra que a maçã guarnece.

De plumagem azulada,
Alegres as andorinhas
Volteam em debandada
Rápidas, dando às asinhas.

O Sol está agora a pino
Brilhando rei e senhor,
As sombras como o destino
'Stão mais nítidas, amor.

Cigarras fazem-se ouvir
A preverem dia quente,
Nosso sábado a sorrir
Desde o nascente ao poente.


Maria da Fonseca 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

BELEZA, poema de Almeida Garrett

 


BELEZA

Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? – ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura…
Mas Beleza é isso? – Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
– Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! – O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:

É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz… é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Almeida Garrett 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

AOS CARACÓIS! Poema de Ilona Bastos

O meu cabelo é aos caracóis, 
tem belos cachos, como girassóis. 
Não quer ser liso, nem quer ser esticado.
Deseja ser livre e muito animado!
Logo que acorda, dá piruetas, 
dançando no ar, fazendo caretas. 
E se o pente vem, com decisão
o cabelo foge num turbilhão!
Se está a chover, que grande festa!
Se o vento está forte, ele protesta. 
Nem gel nem fita o podem parar, 
até com chapéu continua a voar!
E eu vos aviso: Prestem atenção! 
Não me julguem apenas pela expressão.
Pareço calma e muito certinha, 
mas, na verdade, sou malandrinha!
Gosto de brincar, aprender e criar. 
Sou inventora – com ideias a magicar. 
Sou detetive – com mistérios a descobrir. 
E arquiteta – com cidades a construir!
Quem os caracóis me quer alisar, 
pensa que assim me pode mudar. 
Mas olhem que não — sou sonhadora! 
Tenho caracóis por dentro e por fora!
O meu cabelo é aos caracóis, 
como galáxia com seus mil sóis. 
Por isso, digo, com emoção: 
Nos caracóis tenho o meu coração!