quarta-feira, 10 de setembro de 2025

OU ISTO OU AQUILO - Poema de Cecília Meireles

 

Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

O TIM E A PIZZA - Poema de Ilona Bastos



O TIM E A PIZZA



O cãozinho Tim tem pelo dourado, 

longas orelhas e olhar animado.


Acha-se esperto e sabichão,

não ouve os conselhos que os outros lhe dão!


Na Passagem do Ano, o Tim desejava 

uma bela pizza que a família jantava. 


Rondava a mesa, de nariz no ar,

e com a patinha chamava, a ladrar.


Erguia o focinho, mas diziam-lhe: — Não!

A pizza não é comida de cão!


E eis que lançaram foguetes, lá fora!

A família correu a espreitar, sem demora. 


Os pais e os filhos, todos à janela,

sorriam, olhando a estrela mais bela.


No centro da mesa, redonda, cheirosa,

lá ficou a pizza, quente e saborosa!


O queijo, o fiambre, o tomate docinho...

Que delicioso odor sentia  o cãozinho!


O Tim só pensava, sentado no chão:

– Parece-me que a pizza é comida de cão!


Abanou a cauda e ladrou: – Está na hora!

Que rico petisco vou comer agora!


Saltou para a mesa, e a pizza mordeu, 

levou-a para um canto e logo a comeu.


Lambeu o focinho, todo satisfeito,

pois estava orgulhoso do que tinha feito.


 Voltou a família e, espantada, gritou:

– Oh!...  Como é que a pizza daqui voou?


Com ar inocente, o Tim bem fingia

e, da sua malandrice, nada dizia.


Já noite bem escura, o Tim acordou.

A barriguinha doía, e o cãozinho chorou.


Todo enrolado, sobre o colchão,

desanimado, pedia:  – Mais pizza, não!


Sentia tristeza, estava arrependido

por a grande pizza ele ter comido.


A família ouviu-o e veio ajudar,

trazendo um remédio para o curar.


Ficou junto dele e o acompanhou.

Deu-lhe um grande abraço que o animou. 


– Querido cãozinho – disseram, baixinho.

– Já vais melhorar e não estás sozinho!


O Tim, nessa noite, aprendeu a lição: 

Ao que a família diz é preciso atenção!


Ouvir quem nos ama é tão importante

como um abraço reconfortante.


Afinal, a família sempre tinha razão:

A pizza não é comida de cão!


Ilona Bastos