domingo, 15 de maio de 2011

“O livro e o Tempo - ameaças e oportunidades” , de Anabela Rosa

Ilustração de Darryl Brown


Um livro é uma janela pela qual nos evadimos”
Julien Green


No dia 23 de Abril, dia de São Jorge, celebra-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, data instituída pela UNESCO, desde 1996, na sequência de uma antiga tradição catalã que assinalava essa data com oferta pelos cavaleiros às suas damas de uma rosa vermelha em troca de um livro. 
 
Essa data, que surge, ainda, associada ao falecimento de Cervantes e Shakespeare, é uma homenagem à literatura e tem o intuito de promover a leitura e alertar para os direitos dos autores das obras literárias. 
 
A História do livro está associada à História do Homem, tendo acompanhado a sua evolução tecnológica, social e cultural, o qual produzido nos mais diversos suportes, ao longo das épocas, tem permitido através da escrita, registar as experiências, ideias e conhecimentos dos povos.

Do seu percurso de milhares de anos, com génese na invenção da escrita, foi só século XV, com Gutenberg que a prensa, já conhecida dos chineses, através do mecanismo de caracteres móveis reutilizáveis e a utilização do papel, tornou possível a produção em série dos livros e a sua popularização. 
 
Porém, o acesso democratizado aos livros tem percorrido um longo caminho e enquanto veículo transmissor de informação e conhecimento, servido os mais diversos propósitos, desde religiosos a políticos, tendo, não raras vezes, sido idolatrado, outras, diabolizado e proibido. 
 
Todavia, foi só em meados do século passado, que os livros passaram a fazer parte do quotidiano das populações, fruto da melhoria das condições económicas, da adopção de medidas de politica educativa e cultural que apostaram na escolarização progressiva e mais prolongada da população, a par do alargamento da rede de bibliotecas públicas e escolares. 
 
Nesta medida, há que reconhecer uma evolução positiva no acesso aos livros com repercussão nos hábitos de leitura. 
 
Todavia, o livro tal como o conhecemos, enquanto objecto transportável, encadernado com folhas de papel, terá de evoluir para outros formatos em virtude das novas tecnologias de informação e comunicação, onde a apetência pela Internet atingiu um impacto considerável. 
 
São exemplos claros dessa evolução, os livros digitais, os áudio livros e os manuais escolares em formatos acessíveis para os alunos com necessidades educativas especiais, à qual não é alheia uma sociedade com um olhar mais atento e consciente sobre a igualdade de direitos e de oportunidades das pessoas com necessidades especiais.
 
O aproveitamento das novas tecnologias como potenciais aliados na divulgação da cultura escrita, em prol da sua acessibilidade, tendo em conta a diversidade de cada individuo, é um desafio actual e futuro a enfrentar por qualquer sociedade desenvolvida e inclusiva, que coloque as pessoas no centro das suas preocupações. 
 
Ler é sonhar pela mão de outrem”, escreveu Fernando Pessoa no Livro do Desassossego e neste contexto, como a homenagem deste dia se dirige, também, aos Autores e seus Direitos, não nos podemos esquecer da necessidade de serem criadas estratégias inteligentes que permitam o equilíbrio entre o respeito dos seus direitos enquanto criadores e que em simultâneo promovam e assegurem o direito de acesso às pessoas com necessidades especiais à informação e ao prazer da leitura. 

 
Anabela Rosa, in Ipso Jure - 54



Uma sugestão de visita: o lindíssimo blogue Poesia infantil i juvenil, onde descobrimos, entre outras coisas maravilhosas, a ilustração para este belo texto.

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