sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A RAPOSA PREGUIÇOSA, história da Avómi

Era domingo e a Gazela e a Raposa conversavam, enquanto davam um passeio.

- Hoje é véspera de segunda-feira. - disse a Gazela.
- Eu sei - disse a Raposa.
- Eu sei que tu sabes, mas estou a lembrar-me, que amanhã terei que me levantar muito cedo, porque tenho muitas coisas a fazer - disse a Gazela.
- Eu sei - disse de novo a Raposa.
- Eu sei que tu sabes, mas estou a lembrar-me, que talvez possas dar-me uma ajuda. - acrescentou a Gazela.
- Ah... Não posso! Amanhã tenho um compromisso. - disse a Raposa.
- E na terça-feira? - perguntou a Gazela.
- Na terça feira tenho outro compromisso. - respondeu a Raposa.
- Ah, sim, percebo... - disse a Gazela com desdém.
- Eu sei que tu percebes, por isso nem devias pedir-me ajuda. - disse a Raposa.

Gazela-dorcada, do Site Saúde Animal

- Eu só queria que te tornasses útil. - continuou a Gazela.
- E sou! - disse a Raposa com ar enfatuado.
- Qual carapuça! Tu, útil?! Nem digas semelhante coisa, que parece mal! - disse a Gazela, já irritada com a Raposa.
- Isso é que sou! - insistiu a Raposa. - Senão repara: Amanhã logo pela manhã irei à caça com os meus amigos; eles caçarão e eu far-lhes-ei companhia.
- Não esperava que fizesses outra coisa! - exclamou a Gazela com ar de troça.
A Raposa acrescentou ainda:
- É costume os meus amigos prepararem uma boa refeição após a caçada e enquanto isso acontece, durmo sempre uma soneca.
- Para isso tu serves. - disse a Gazela - O pior é se a soneca se prolonga e ficas sem almoço, o que seria bem feito, para deixares de ser preguiçosa.
- Isso é que não fico, porque os meus amigos conhecem-me bem e hão-de acordar-me quando tudo estiver preparado. Só terei que lavar as mãos e sentar-me à mesa - disse a Raposa com ar zombeteiro.
Após o almoço costumamos dar um passeio pela margem do rio, onde as bonitas árvores fazem uma sombra que dá gosto. Normalmente canso-me a meio do caminho e volto a dormir deitadinha à sombra duma árvore, enquanto eles andam, andam... para, segundo dizem, fazerem a digestão.
Eu cá não preciso de fazer digestão nenhuma, preciso é de descansar.

- Tens razão! Precisas de descansar as fadigas de quem nada faz, não é? És mesmo descarada - disse a Gazela, indignada. - Que dirão aqueles que trabalham desde manhã até à noite?

- Esses não se cansam, por isso é que trabalham - disse a Raposa a sorrir.

- Bem, de ti não há nada a esperar. - disse a Gazela - Contudo não quero entrar em conflito, mas tão só dizer-te, que és o animal mais preguiçoso que conheci em toda a minha vida. Porém, é estranho que assim sejas, porque os teus pais e os teus irmãos são bastante trabalhadores.

- Pois, por isso mesmo é que não preciso de trabalhar! - disse a Raposa esfregando as mãos de contente - Só se fosse pateta! Adoro sentar-me a olhar os outros enquanto trabalham. Às vezes os meus irmãos irritam-se e chamam-me capataz, mas não me importo. Também ficam furiosos quando dou sugestões que, diga-se em abono da verdade, nem sempre são frutuosas.

Um dia destes saí-me mal e apanhei um valente susto, porque um dos meus irmãos atirou-me com um prato, quando eu, muito bem refastelada numa cadeira, lhe dizia como devia pôr a mesa. E mais... que a pusesse depressa.

Por sorte, ele não teve pontaria e o prato foi estatelar-se no chão e ficou em fanicos.
- Estás a ver? - disse a Gazela - O teu irmão teve razão para se zangar contigo. Claro que não acho bem que te tenha atirado o prato, pois isso não se deve fazer, mas lá que devem perder a paciência contigo, acredito.
Mas agora reparo, é tardíssimo!... Vou, mas é para casa, pois quero fazer umas coisas ainda hoje. O meu tempo tem que ser bem orientado ou não me chegará para fazer tudo que programo para cada dia.

- Continua a proceder assim e não descanses, e verás o que te vai acontecer. - disse a Raposa - Olha que quem te avisa teu amigo é!
Continua a trabalhar, que eu continuarei a descansar, minha amiga.

- Eu não digo que, contigo, não há nada a fazer?!...- disse ainda a Gazela.


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