sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A CHUVA, história de Ilona Bastos

Naquele dia cinzento em que o Inverno chegou e fez o mercúrio descer nos termómetros, a mãe abriu a gaveta da cómoda e de lá retirou uma fofa camisola de lã às riscas.

- Toma esta camisola nova! - disse ela, entregando o agasalho ao filho, que o vestiu. - Hoje vais bem quentinho para a escola.

Pela rua fora, mãos nos bolsos, a assobiar, o Alexandre saiu cedo para as aulas, satisfeito e confortável dentro da sua nova camisola de lã.

E também a mãe ficou contente quando o menino, ao fim do dia, lhe contou que muito brincara, muito estudara, muito aprendera, e que não tivera frio nenhum.

Então, a mãe lavou rapidamente a camisola e estendeu-a a secar, para o filho poder vesti-la no dia seguinte.

Aconteceu que nessa noite caiu uma bátega de água, e de manhã, quando a mãe quis apanhar a camisola, foi encontrá-la fresquinha, molhadinha e... com metade do tamanho - com a chuva, a bela camisola nova de lã encolhera!

- Que grande aborrecimento! - desabafou a mãe, espreitando pela janela. - E ainda por cima vai continuar a chover durante todo o dia, por isso é melhor levares a gabardina.

Lá seguiu o Alexandre para o colégio, radiante, de capuz enfiado na cabeça, dando pontapés nas pedras da calçada.

Quando regressou, no final da tarde, a mãe ficou aliviada ao verificar que o menino muito brincara, muito estudara, muito aprendera, e não se molhara. Só os sapatos não se apresentavam no seu estado normal: estavam um pouco húmidos... ou melhor, molhados... bom, na verdade, estavam completamente ensopados!

- Rapaz! Rapaz! - exasperou-se a mãe - O que andaste tu a fazer?

E rapidamente descalçou o menino, colocando os sapatos junto do aquecedor.

No dia seguinte, pela manhã, a mãe tentou calçar o Alexandre. Mas os sapatos, marotos, recusavam-se a deixar os pés entrar, empurrando-os para fora - com o banho e a secagem, os sapatos tinham encolhido!

- Que maçada! - queixou-se a mãe. - Esta chuva parece que não pára, e hoje terás de levar as botas de borracha.

Que prazer, para o Alexandre, caminhar sobre poças e pocinhas, chapinhando e saltando, espalhando água em redor. De gabardina e com botas, não havia chuva que lhe chegasse, e o menino sentia-se nas suas sete quintas!

Mas, ai dos meninos traquinas! Distraído como ia, o Alexandre não reparou num buraco, mesmo à entrada do colégio. Quis pular e espadanar e acabou estatelado, a tomar banho na lama.

Para que não se constipasse, a professora despiu-lhe a roupa molhada e vestiu-lhe calças, camisola e gabardina, que havia no colégio para estas ocasiões. Só que o Alexandre era pequeno, e a roupa era grande...

Bom, quando, ao entardecer, o menino voltou para casa, veio a mãe, ansiosa, recebê-lo à porta. E vendo a esvoaçante gabardina, bem abaixo dos joelhos, as largas mangas escondendo-lhe as mãos, lançou os braços ao céu e exclamou:

- Ai, meu filho! Desta vez foste tu que encolheste!

camisola - suéter

gabardina - capa de chuva

Sem comentários: