sábado, 20 de junho de 2009

BOAS NOITES, poesia de João de Deus


Lavadeira, de Alfredo Roque Gameiro,
grande pintor aguarelista contemporâneo (1864-1935)

Estava uma lavadeira
A lavar numa ribeira
Quando chega um caçador:
- Boas tardes, lavadeira!
- Boas tardes, caçador!
- Sumiu-se a perdigueira
Ali naquela ladeira;
Não me fazeis o favor
De me dizer se a brejeira
Passou aqui a ribeira?
- Olhai que, dessa maneira,
Até um dia, senhor,
Perdereis a caçadeira,
Que ainda é perda maior.
- Que importa, lavadeira!
Aqui na minha algibeira
Trago dobrado valor...
Assim eu fora senhor
De levar a vida inteira
Só a ver o meu amor
Lavar roupa na ribeira!
- Talvez que fosse melhor...
Ver coser a costureira!
Vir de ladeira em ladeira
Apanhar esta canseira,
E tudo só por amor
De ver uma lavadeira
Lavar roupa na ribeira...
É escusado, senhor!
- Boas noites... lavadeira!
- Boas noites... caçador!

.

Sem comentários: